O PROFESSOR, O POLÍTICO E A
SERPENTE DO CERRADO
Um
professor no auge do seu estresse resolveu tirar seus dias de férias por
direito legal no interior do cerrado de Mato Grosso. Até então, tudo planejado
nos mínimos detalhes. Natureza, ar puro, paz interior e exterior. Um descanso
total era tudo o que ele esperava encontrar. A pousada era reservada e bem
rústica, mas dentro de suas possibilidades financeiras. Um frigobar recheado de
coisas boas (a pagar) e uma televisão com 41 canais estavam à sua disposição. Logo em frente, havia outra pousada, um pouco
mais chique. Frigobar, televisão com canais por assinatura e internet banda
larga 4G ilimitada, estavam à disposição de quem a reservasse. Tudo do bem e do
melhor. Pelo zum zum zum das línguas falantes, estava ocupada por um político
da capital Cuiabá que também estava no gozo de suas férias tão merecidas.
No
lado de trás da pousada, a uns 300 metros, havia um bananal, recheado de folhas
secas e um pouco de umidade da chuva que ainda havia caído dois dias atrás. Num
cantinho escuro e aconchegante estava em seu merecido repouso uma serpente,
sutil, sagaz e muito esperta. Na verdade, Já estava com fome, pois sua última
refeição fora há três dias, um suculento e delicioso gambá.
Dia
seguinte, o professor resolveu fazer um passeio levando consigo uma garrafinha
de água, um sanduíche de frango e um livro, mas ao sair da rota da trilha, se
perdeu. Resolveu então parar pra relaxar e
pensar como encontrar o caminho de volta. Sentou-se ao lado de um grande
pé de Pequi e como ainda era cedo, começou a folhear seu livro.
Nesta mesma manhã, o político também resolvera
fazer um tour pela redondeza. Óculos de sol, água mineral, chapéu de couro de
jacaré, repelente e protetor solar. Assim como o professor, o político também
se perdeu e ao olhar para a sua frente estava lá, o professor, sentado, lendo
alguma coisa. O Político aproximou-se e ambos começaram a conversar e ver como
encontrariam a solução para achar o caminho de volta.
Nesse
momento, a cobra/serpente apareceu e percebendo que ambos estavam perdidos, se
prontificou a ajudá-los. Olhou-os nos olhos e disse: eu os levo aonde querem,
mas exijo uma recompensa. O professor pensou e respondeu à cobra: O que fazes
aqui sozinha? Onde estão seus pais? Você não deveria estar estudando os
ensinamentos sagrados das serpentes ? A cobra então respondeu: Eu já nasci esssperta!
O professor perguntou: o que eu, um
simples professor posso te dar em troca desse tão grande favor? A cobra com
toda sssutilieza e sssagassidade sssuspirou e respondeu: senti um cheiro forte
de frango frito. Me dê seu ssssanduíche e estamos quites. O professor não
pensou duas vezes e entregou seu sanduíche de frango frito à cobra que o
devorou de uma só vez. Após limpar a boca com sua língua afiada a cobra olhou
para o político e ele, se achando muito esperto prometeu meio mundo de delícias
para a cobra sagaz . O político a olhou-a mais uma vez e disse: disse: Só lhe
entrego essas delícias quando chegarmos à posada. A cobra sssussspirou e
indagou: não vai me enganarrrrr? Olha bem pra mim! disse o político com ar
sinistro. Acha que não sou capaz de cumpri o que prometi? A cobra concordou com
os dois e seguiu em direção à pousada, mas pediu que o professor ficasse por
último e o político bem atrás dela. Já chegando perto da pousada ambos
avistaram a antena da tv por assinatura. Foi uma alegria só! A cobra olhou para
o professor e disse: corre, vai á luta! a casa é sua. Nesse momento o político
tentou escapar de fininho, pois não tinha o que prometeu, mas a cobra o segurou
com seu rabo forte e disse: cadê as delícias que você me prometeu? O político tentou de todas as formas
persuadi-la a entrar em acordo consigo, mas não conseguiu. A cobra o engoliu
aos poucos, e sufocado, ele gritava: eu prometo, vou cumprir o que te falei, só
deixa eu ligar pro meu assessor. Foi em vão. A cobra o devorou como se fosse a
última bolacha do pacote e olhando para o professor disse: SSSSSS! ssssou que nem ele. SSSó sssei
sssser o que sssssou.
Raimundo
Soares de Andrade
Rondonópolis,
MT, 17/05/2014
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