terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O Colapso da Educação Brasileira


O Colapso da Educação Brasileira




O filho chega para a mãe todo contente e com um sorriso tão grande que contamina até a vizinha que olhava pela janela. Entrega um papel  importante e sua mãe ainda com extrema dificuldade de leitura procura lê-lo da melhor forma possível que aprendeu ainda quando menina (soletrando). A – PRO – VA – DO. – Valei-me Deus! Diz a mãe toda intrigada. – Esse minino cabra da pesti fartou 189 vezis na iscola, tirô novi zerus  duranti u anu todo, teve novi paçagi na sala da diretora e ainda diz que passô?
O menino esperto que é e conhecedor das leis educacionais, olha  para a mãe e faz sua defesa esplendorosa: – Aê mãe! Os tempos mudaram, a onda agora é diferente. Eu nem preciso estudar pra passar. Tem um tal de sistema que toma conta de tudo e faz a vida uma maravilha. Veja só, o meu amigo Chiquinho  já chegou arrasando  na escola. Ele está  com 14 anos e parou no quinto ano, esse tal de sistema  mandou ele direto pro nono ano, nem se quer precisou fazer prova, isso é radical.  Dizem que é uma tal de enturmação. A mãe sussurra baixinho: – Vixi Maria! Esse mundo tá doidiu mermo. Tá iguá arguns políticus: roba roba e cuntinua seno santo.

Parece engraçado e esquisito, mas é simplesmente uma realidade nua e crua da nossa tão sonhada educação. Como pai, me recuso a acreditar  que a educação brasileira  vai bem. Não é verdade. Muito obrigado. Saber que no papel  a proposta  do ciclo de formação humana é um sonho tão almejado me deixa feliz, mas ao  me deparar com o que vemos e ouvimos em nossas escolas, me entristece.
Não é a toa que no último IDEB tivemos uma queda surpreendente entre os alunos do ensino médio. São reflexos do ensino fundamental, é apenas uma amostra de como anda  nosso ensino. Se no ensino fundamental não existe reprovação  e expulsão, logo todos são aprovados. Que me perdoem os bons e entendidos da área: ISSO É UMA TREMENDA FARSA. Como queremos que nossos alunos sejam? Será isso realmente um preparo para a vida, para o mercado de trabalho? O que vejo todo dia são professores fazendo das tripas  coração, o impossível para que seus alunos tenham o desejo de aprender e os pais em grande maioria perguntando: Como meu filho  passou se nem ao menos sabe  ler e escrever direito? (não que eu seja contra a formação humana)  mas em parte, eles estão certos. Se todos passarem, seremos um estado inteiramente alfabetizado. Outra grande farsa. Como educadores precisamos ir muito mais além. Como superar desafios de aprendizagem se nos faltam suportes e estruturas  necessárias capazes de amenizar pelo menos um pouco dos nossos problemas? O professor é multi. Multiplicado por dez. Dez problemas, dez soluções, dezPREZADO, porque não tem o valor que lhe é dado por direito conquistado em longos anos de preparo e estudo. Uma escola que nem ao menos tem uma biblioteca, uma sala de  superação, uma sala de recursos, que vive no descaso e improviso e faz jus ao povo brasileiro que sempre dá um jeitinho para cada coisa. Enquanto isso, no PARAÍSO, deitam e rolam no nosso dinheiro pago com  suor tirado do  nosso próprio corpo.
Quisera eu e muitos outros pais que a educação brasileira fosse tão admirada quanto o futebol e que tivesse tanto investimento quanto um estádio ou até mesmo a sua festa de inauguração. Para um país que se encontra em sexto lugar como potência mundial é lamentável saber que possuímos a 88ª posição em educação. Isso é contraditório (fonte 2012). As orientações curriculares  dizem que nas escolas organizadas por Ciclos de Formação Humana, as responsabilidades são compartilhadas, nesse sentido, todos os profissionais da escola devem compreender a necessidade/importância de assegurar a permanência do educando na escola e seu avanço nos estudos, neste sentido, ouso perguntar: Será mesmo que estão dando tanta importância à essa educação? O que fazer então para solucionar tais dificuldades? Que nossos alunos queiram ser lapidados e transformados e que procurem exercer a sua cidadania de tal forma a alcançar o alvo desejado, uma educação comprometida com seu direito de ser e viver. Que todos os pais levem a sério o estudo dos seus filhos e  que prezem pela qualidade do aprendizado e que interajam na vida do mesmo, que tornem a escola um pedaço de seu lar e que se disponham a ajudar quando lhe pedem auxílio. Que nossos  professores, comprometidos e capacitados carreguem na alma o desejo de aprender e ensinar, que se aperfeiçoem a cada dia com o tradicional e o tecnológico. Que continuem manejando a arma do conhecimento usando toda  sua sabedoria para as práticas do bem comum, que despertem  no aluno o interesse e o desejo pelo estudo e pela pesquisa científica. Queremos também uma gestão  que tenha visão, que pense no futuro, que desenvolva um trabalho cooperativo, que invista no que é necessário, que sonhe alto, que pense na qualidade, que seja ativa e participativa e que se torne presente no contexto da vida de cada aluno. E, por fim, queremos um GOVERNO que faça valer o verdadeiro sentido e significado da palavra educação. Que zele pelas escolas dando-lhes condições e infra-estrutura suficientes para  que as  ações pedagógicas  sejam menos utópicas e mais reais, menos teóricas e mais práticas. No País onde o esporte vale um milhão e a educação um sabugo… tá na hora de revermos esse conceito.
(*) Raimundo Soares de Andrade é pai e educador  que pensa que a educação é uma coisa muito séria para ser levada na brincadeira – prrsoares@hotmail.com
Artigo publicado no jornal A tribuna. Confira mais :


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